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sábado, 4 de julho de 2015

Diretora diz que teme morrer se voltar para a escola


Carla Valéria está muito abalada (Fotos: Portal Infonet)
Abalada ela diz que quando fecha os olhos, episódio volta.

“Quando fecho os olhos, só imagino ele me matando. Não volto mais para o Colégio Lourival Fontes, pois já é a segunda vez que sofro violência. Deus me deu mais uma chance e eu não vou desperdiçar”. O desabafo foi feito na tarde desta sexta-feira, 3, pela diretora Carla Valéria de Oliveira, 24 horas após ter sido esmurrada, xingada, levado pontapés e ter a testa, as costas e o ombro machucados por um aluno de 16 anos, que usou um objeto cortante [supõe-se que uma caneta, mas acredita-se ter sido um estilete].


Deitada em um sofá e recebendo os cuidados da família e o carinho do filho mais novo, de apenas seis anos, ela recebeu a reportagem do Portal Infonet para relatar toda a angústia, o medo e a frustração por não ter conseguido recuperar o aluno, apesar das inúmeras tentativas.

Visivelmente abalada e sentido dores por todo o corpo, ela exibiu os hematomas nas costas, no ombro e os seis pontos que pegou na testa durante a sutura na Unidade de Pronto Atendimento Nestor Piva, após ter sido socorrida por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Eu estou na escola desde o ano passado, depois que passei por todos os trâmites exigidos pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) para assumir a direção. Como a diretora do Lourival Fontes, Graça Calumby, saiu após ter sido ameaçada por alunos, eu fui encaminhada pra lá. De outubro até agora, desenvolvi um trabalho com muito diálogo tanto com os alunos quanto com os familiares, pois muitos são usuários de drogas. Tentei conscientizá-los ao máximo, mostrando que o futuro deles estava nos estudos, que já vi dois jovens morrer perto da minha casa por drogas, que são bonitos e podem sim ser recuperados, mas foi em vão. Trabalhava no Colégio Costa e Silva com mais de 2 mil alunos e nunca tive problemas, mas lá com apenas 300, acontece essa tragédia”, ressalta.

Família

Carla Valéria contou que após perceber a mudança de comportamento no aluno que a agrediu, ela entrou em contato com a mãe. “Eu conversei com a mãe dele, disse que estava mudado, que estava andando com outros alunos que o estavam deixando mais agressivo e pedi que ela o acompanhasse, pois eu já vinha dialogando com ele, foi quando juntamente com outros, explodiu uma bomba no banheiro”, diz.

Agressões

Amparada pela mãe, ela tenta se virara para mostrar as agressões
A diretora informou que na tarde desta quinta-feira, 2, o aluno chegou, pegou um copo de água, tomou um pouco e em seguida coisas que não entendi, em pouco tempo ele retornou cantando música de rap, olhou pra mim e disse: ‘se vai me expulsar, eu saio daqui, mas antes vou lhe matar’ e começou a me dar socos. No primeiro eu caí e ele continuou me chutando e me batendo. Foi quando me cortou na testa e viu o sangue jorrar. Foi tudo muito rápido, quando ele me viu já sem forças pra nada no chão, pensou que eu estava morta e correu, encontrou uma professora e disse: a diretora tá lá morta”, emudece.

Depois de alguns minutos ela continua: “Por um motivo tão banal, eu poderia estar morta, claro que ele conseguiu me matar um pouco sim, pois a gente trabalha dialogando e recebe tanta violência em troca”, lamenta.

Retorno

Indagada se vai voltar à escola, ela não pensa pra responder: “Não volto mais pra lá. Deus me deu mais uma chance, se eu voltar, posso não retornar pra casa, para meus filhos [a menina de 13 e o menino de seis], para minha mãe, meus irmãos, meus amigos. Eu preciso de forças para continuar a vida, mas não no Lourival Fontes. Se fosse uma faca, eu estaria morta”, acredita.

Sobre o que sente em relação ao ex-aluno, Carla Valéria enfatizou: “De verdade eu peço a Deus que ele ainda possa ser recuperado, assim como os demais alunos usuários de drogas, que eles se conscientizem de que podem ser melhores e que a violência só vai leva-los para caminhos sem volta”.

Ao final da entrevista, a mãe da diretora, d. Irani Soares, olhou para a repórter, encheu os olhos de lágrimas, agradeceu e perguntou: “minha filha, você é contra ou a favor da redução da maioridade penal? Eu sou a favor porque eu podia ter recebido minha filha no caixão”.

O agressor, que estava matriculado na turma da 2ª etapa de Educação para Jovens e Adultos (EJA), e reside no bairro Manoel Preto, foi apreendido e levado à Delegacia de Proteção ao Menor. Ele aguarda decisão da Justiça, podendo ser encaminhado à Unidade Socieducativa de Medidas Provisórias (Usip) ou retornar ao convívio familiar.

Informações de Aldaci de Souza, do Portal Infonet

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