Decisão tomada
pela executiva estadual do PSB, em favor da campanha presidencial de
Aécio Neves, causa divisão dentro do partido.
Sergipe 247 -
Embora o senador Valadares tente fazer parecer coerente, é extremamente
contraditória a sua decisão de levar o diretório estadual do seu
partido, o PSB, a apoiar o tucano Aécio Neves na disputa pela
Presidência da República contra a presidente Dilma Rousseff (PT). A
realidade local impunha que ele se definisse pela petista - ou, no
mínimo, pela neutralidade. Não só por integrar o bloco governista, cujo
líder, o governador Jackson Barreto (PMDB), é aliado de primeira hora da
presidente, mas também porque membros do PSB, como prefeitos,
parlamentares e o novo vice-governador Belivaldo Chagas (PSB),
defenderam o apoio a petista, que obteve expressiva votação no Estado.
Além disso, ao apoiar Aécio, Valadares se alinha à
oposição e dá um tiro no pé, pois fortalece, em caso de vitória do
tucano, o projeto de reeleição do prefeito João Alves Filho (DEM), cujo
principal adversário no último pleito foi o deputado federal Valadares
Filho (PSB).
A adesão de Valadares tem causado grande
repercussão nas redes sociais. Nos perfis do senador, no Facebook e no
Twitter, as opiniões se dividem. Há quem concorde com a posição, mas há
também um grande contingente de pessoas que está criticando o senador. O
argumento contrário mais recorrente tem sido o fato de que em Sergipe, o
PSB é aliado do PT e do PMDB, legendas de Dilma e do vice-presidente
Michel Temer.
Mesmo diante das críticas, o senador Valadares
reafirmou sua posição pró-Aécio Neves. "Eduardo Campos, Marina , e agora
quem deve tocar o projeto de mudança? Eduardo Campos inesquecível
presidente nacional do PSB, sucessor de Arraes, morreu tragicamente em
desastre de avião, defendendo um novo projeto pra mudar o Brasil, como
candidato à presidência da República. Em sua luta por um projeto para
levar o Brasil a trilhar um novo caminho, esculpiu frases que ficaram
gravadas na memória de milhões de brasileiros: "Coragem para mudar o
Brasil" e "Não vamos desistir do Brasil". Estive com Marina no primeiro
turno que conduziu o projeto de Eduardo, a qual, resolveu agora apoiar
Aécio. O PSB, partido ao qual sou filiado, e que teve Eduardo Campos
como presidente, decidiu por esmagadora maioria apoiar a candidatura de
Aécio para presidente. Numa homenagem ao saudoso amigo Eduardo Campos,
às lideranças vitoriosas de Pernambuco, e à sua família, tendo à frente
Renata, e também porque estou convicto do acerto da escolha do nome de
Aécio para presidir o Brasil, é que estou neste segundo turno aprovando o
projeto que tem o apoio do nosso PSB. Aécio para presidente será bom
para o Brasil", postou ele no Facebook.
A decisão do PSB não foi
unânime. Belivaldo Chagas (PSB), por exemplo, já havia declarado, que
apoia a presidente Dilma Rousseff, tanto que participou da recepção à
candidata em Aracaju na semana passada. Da mesma forma, prefeitos da
legenda, como Thiago Dórea (de Poço Verde) e Elaine de Dedé (de
Malhador) optaram igualmente pela petista. Uma declaração de Dórea, na
reunião do Diretório do PSB sintetizou a questão: “Com certeza, a
maioria está com Dilma. Esqueci um pouco a sigla e estou com o povo e
isto significa dizer que estou com Dilma”. Já Elaine disse recentemente
não ter dúvidas que "Dilma, depois de Lula, foi a melhor presidente que o
país já teve". A petista teve ampla votação no Estado (55% dos votos
válidos), principalmente nas cidades do interior, onde o índice de votos
ultrapassou os 60%. Em Malhador, foram mais de 63% dos votos. Em Poço
Verde, 65,6%.
Chama a atenção que Valadares tenha optado por
Aécio mesmo que o seu partido, em âmbito nacional, não tenha
estabelecido uma regra intransponível em favor do tucano, tanto que os
diretórios da agremiação na Bahia, na Paraíba e no Amapá apoiam Dilma.
Além disso, em Sergipe, o agrupamento da oposição se uniu em favor de
Aécio, o que poderia servir de argumento sólido para o senador
justificar sua adesão à candidata petista. Outro ponto relevante nesta
discussão é que os pessebistas do Estado integraram o grupo dos filiados
mais resistentes ao rompimento com Dilma no ano passado. Mas, ao que
parece, tudo isso não teve qualquer importância para Valadares.
Na
reunião do Diretório Nacional, o senador do PSB chegou a defender a
neutralidade da legenda. Mas foi voto vencido. Não só ele, como o
presidente do partido, Roberto Amaral, que, diante da decisão da maioria
em apoiar o tucanato, expressou-se publicamente contra a definição e
declarou apoio à Dilma.
"Ao aliar-se à candidatura Aécio Neves, o
PSB traiu a luta de Eduardo Campos, encampada após sua morte por Marina
Silva, no sentido de enriquecer o debate programático pondo em xeque a
nociva e artificial polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira,
ampla e multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo
e, coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice
da Mata, Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson Cardoso,
Kátia Born e Bruno da Mata, a favor da liberação dos militantes. Como
honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado? Em momento
crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se à
disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do
Estado. Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os
ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano", afirmou
Amaral.
Porque Valadares não agiu de modo semelhante ao presidente da sua legenda?
Ao
seguir a decisão do seu partido e declarar publicamente que a eleição
de Aécio será positiva para o país, o senador Valadares parece esquecer
da realidade local, onde é muito mais importante, politicamente e
estrategicamente, a vitória de Dilma, tanto no âmbito estadual quanto na
perspectiva da próxima eleição. Ou será que o senador do PSB já repensa
a posição atual do partido no Estado?